Antes mesmo de assumir uma posição de liderança, muitas pessoas começam a refletir sobre o que isso significa e os desafios que podem surgir. Esses pensamentos, embora comuns, podem ser acompanhados de ansiedade, dúvidas ou receios. Afinal, ser líder não é apenas sobre tomar decisões; é sobre construir relacionamentos, resolver conflitos e alinhar pessoas a objetivos comuns.

Ao me aprofundar nesse tema, percebi que liderar exige mais do que habilidades técnicas ou conhecimento. Liderar, sobretudo, requer uma boa dose de resiliência psicológica.

A resiliência psicológica pode ser entendida como a capacidade de lidar com as adversidades, mantendo foco e alinhamento com aquilo que importa. No contexto da liderança, isso significa gerenciar situações complexas, navegar por conflitos interpessoais e se adaptar às mudanças constantes do ambiente de trabalho.

Mas como desenvolver essa habilidade? Inspirando-me nos princípios da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), percebo que a resiliência psicológica pode ser construída em diferentes dimensões, como a emocional, a cognitiva, a comportamental e a motivacional. E, no caso de líderes, ela pode ser a base para decisões mais assertivas e relacionamentos mais saudáveis.

Aceitação das Realidades do Papel de Líder

Uma das maiores armadilhas da liderança é evitar ou ignorar os desafios. Por exemplo, um líder pode hesitar em lidar com um colaborador com baixo desempenho, temendo conflitos. No entanto, essa evitação geralmente agrava o problema.

A aceitação, neste contexto, não significa resignação, mas a disposição para enfrentar pensamentos e emoções difíceis que surgem no papel de líder. Reconhecer sentimentos como frustração, insegurança ou medo sem ser dominado por eles permite que o líder tome decisões mais claras e eficazes.

Perguntas para reflexão:

• Quais pensamentos ou emoções difíceis estão me impedindo de agir?
• Como posso lidar com esses desafios sem evitar o problema?

Desfusão Cognitiva: Separando-se dos Pensamentos Limitantes

Líderes frequentemente enfrentam pensamentos como “Não sou bom o suficiente para resolver isso” ou “Minha equipe vai me julgar se eu falhar”. Quando nos deixamos levar por esses pensamentos, eles podem limitar nossas ações.

A desfusão cognitiva nos ensina a observar os pensamentos como eventos transitórios, e não como verdades absolutas. Um exercício simples é identificar esses pensamentos e perguntar: “Isso é um fato ou apenas uma ideia que estou tendo agora?” Essa prática reduz o impacto dos pensamentos negativos e nos ajuda a agir de acordo com nossos valores, não com nossos medos.

Contato com o Presente: O Foco no Aqui e Agora

A liderança muitas vezes exige decisões rápidas e ações coordenadas. No entanto, a preocupação excessiva com o futuro ou o peso de decisões passadas podem atrapalhar a atenção ao que realmente importa no momento presente.

Estar presente significa prestar atenção ao que está acontecendo agora: nas emoções, nos comportamentos da equipe e nas demandas do ambiente. Perguntar-se “O que está acontecendo aqui e agora que precisa da minha atenção?” é um passo importante para liderar com clareza.

Praticar esse foco pode incluir pausas conscientes durante o dia, reuniões mais objetivas e até exercícios de mindfulness, que ajudam a reduzir distrações.

Valores e Propósito: A Base de Decisões Assertivas

Ser um líder resiliente também significa ter clareza sobre o que é importante para você e para sua equipe. Muitas vezes, decisões difíceis se tornam mais fáceis quando alinhadas a valores claros.

Por exemplo, em uma situação de conflito entre dois colaboradores, um líder pode se perguntar:

• Que tipo de ambiente quero criar para minha equipe?
• Quais ações reforçam os valores que eu quero transmitir?

Definir valores como transparência, respeito ou colaboração ajuda a guiar as decisões e inspira a equipe a seguir na mesma direção.

Desenvolvendo Liderança Resiliente na Prática

Treinar essas habilidades em um ambiente seguro, como terapia ou coaching, pode ser um grande diferencial para líderes. Nesses espaços, é possível:

• Simular situações reais de trabalho: Praticar respostas a conflitos, feedbacks difíceis e tomadas de decisão sob pressão.
• Refletir sobre crenças limitantes: Identificar pensamentos que dificultam sua liderança e trabalhar formas de superá-los.
• Aprender estratégias para regulação emocional: Desenvolver ferramentas para lidar com o estresse e a ansiedade que surgem na liderança.
• Definir e alinhar valores: Explorar o que realmente importa para você enquanto líder e como isso pode se refletir na cultura da equipe.

Liderança Baseada em Flexibilidade e Valores

Ser líder é um convite constante à adaptação, ao aprendizado e ao desenvolvimento. Incorporar práticas de aceitação, desfusão, foco no presente e clareza de valores pode transformar o modo como você lidera e se relaciona com sua equipe.

Se você deseja se aprofundar nessas habilidades, considere buscar um espaço de apoio – como terapia – para treinar sua resiliência psicológica e alinhar suas ações aos seus objetivos. Liderar não é fácil, mas com práticas consistentes e foco no que importa, você estará cada vez mais preparado para inspirar e conduzir sua equipe com assertividade e confiança.